Você se entrega mais do que imagina…


Mariana Benedito: “A forma como tratamos o outro, a maneira que nos referimos a alguma coisa traçam verdadeiros mapas da nossa realidade emocional e psíquica”


A gente pensa que se esconde bem, não é? Máscaras e mais máscaras, disfarces, armaduras, personas… tudo na intenção de moldar um jeitinho para ser mais aceito, mais amado, parecer ser mais legal e não aparentar carregar tanta coisa dentro da nossa gavetinha do inconsciente. Mas, chegue aqui mais pertinho pra eu te contar um segredo, meu amado leitor: você fala mais de você do que imagina, se entrega muito mais do que pode imaginar!

Nós falamos de nós o tempo inteiro. Pode estar conversando sobre a novela das nove, um caso que aconteceu com a vizinha, futebol, copa, eleição, olimpíada, não importa! A gente enxerga a vida através das nossas lentes e expressa, transmite, verbaliza, comunica as coisas através dessas mesmas lentes. Tudo que a gente fala, que sai da boca, passou primeiro por um caminho bem longo, que vai desde a nossa interpretação daquilo, nosso julgamento, nossa vivência, o que queremos mostrar e o que queremos esconder.

O que a gente fala traz traços importantíssimos sobre nós – além do nosso corpo que comunica absolutamente tudo! E esse caminho tão assustador, e igualmente fantástico, do autoconhecimento, do mergulho dentro da gente, do entendimento do que se passa da pele pra dentro começa justamente no movimento de se ouvir mais. Experimente se ouvir mais, meu amado ser que lê estas linhas aí do outro lado.

A forma como tratamos o outro, a maneira que nos referimos a alguma coisa traçam verdadeiros mapas da nossa realidade emocional e psíquica. A nossa mente é que controla o baba todo, meu amado! E é na mente que a gente precisa colocar o foco da nossa atenção para identificar, olhar, entender, compreender, aceitar para poder ressignificar as dores, medos, bloqueios e o que nos separa de estar em paz. Internamente em paz.

Tome um gole de sua água aí e repare bem no que vem adiante. Tudo, absolutamente tudo, sem exceção que existe nesse espaço-tempo chamado Terra é amor ou um pedido por amor. Calma que eu vou dar um exemplo: quantas vezes você já foi magoado, machucado por alguém que falou ou agiu de determinada forma e, para demonstrar o quão magoado você ficou, falou ou respondeu essa pessoa de forma ainda mais grosseira? Como se sua cabeça dissesse: você me magoou e eu estou sentindo uma dor tão grande que eu preciso que você saiba o tanto que está doendo e sinta a mesma dor que eu. O que acontece? Suas palavras saem mais cortantes que faca de açougueiro. O que você deseja, no fundo, é chamar a atenção desta pessoa para que ela veja sua dor. Trocando em miúdos, é um pedido por amor.

Vou dar mais um exemplo, repare: você com certeza conhece alguma pessoa que tem um jeito bem agressivo de falar e tratar os outros. Tem um jeito rude, ignorante, “personalidade forte” – que nada tem de força, mas sim de indelicadeza. Um comportamento bélico, como se estivesse, de fato, vestindo armaduras e empunhando armas, pronta para o combate vinte e seis horas por dia. Qualquer mínima coisa é motivo para gritos, impaciência, intolerância como se o mundo estivesse errado, ela certa e a única forma de persuasão fosse a rispidez e selvageria, com pitadas de xingamentos e doses de patadas. Caso você conheça alguém assim – ou infelizmente seja uma delas – tente olhar de maneira diferente. Todo esse comportamento agressivo é, nada mais, nada menos, do que um pedido por amor.

É a tentativa, a todo custo, de chamar a atenção, ser olhada, ser vista em sua totalidade. É o grito que diz, em meio a toda agressividade: é uma dor tão pesada para carregar sozinho, é uma carga emocional tão densa, é uma ferida tão profunda e que não para de latejar, que eu não estou mais conseguindo suportar; mas a armadura que eu vesti me separa tanto de você, que esta foi a maneira que eu achei de pedir ajuda, me veja!

Tudo é amor ou um pedido por amor. Guarde isso em seu coração.

E, por mais machucados e fragilizados que possamos estar, cabe a nós perceber nossos medos, inseguranças, frustrações, dores para não projetar no outro toda essa carga emocional.

Muito embora alguns comportamentos sejam pedidos por amor, só nós temos a chave para abrir a caixinha que guarda todas as respostas, e você se dá as pistas para encontrá-la o tempo inteiro com tudo o que diz, basta estar atento para escutar.

 

– Psicanalista e Psicoterapeuta

Instagram: @maribenedito