Que as relações são as nossas principais portas de aprendizado, observação, desenvolvimento a gente já conversou aqui nesta coluna, não é mesmo, meu amado leitor? Mas existe um padrão, um modo tal de se relacionar com o outro que necessita da nossa atenção e que falemos sobre. É a Codependência Emocional. Quando você ouve este termo, o que vem à sua cabeça?
Uma expressão não muito conhecida, pouco utilizada, mas que é facilmente atrelada à carência, ao derramamento de lágrimas em cenas de novela mexicana e a uma confusão com relação à dependência também. Não é verdade?
Pois bem, meu amado ser que me lê aí do outro lado, um dos principais meios de manifestação da Codependência é através das relações amorosas. Mas repare, vamos caminhar com calma aqui neste terreno. Pega aí sua xícara de chá e me acompanhe.
Todos nós temos vazios internos e eu acredito plenamente que a grande tarefa que a gente tem nessa vida é buscar não somente preencher esses vazios, porque eles jamais serão plenamente preenchidos – somos seres de faltas e são elas que nos movem, consegue perceber? – mas também integrar esses vazios, abrindo espaço emocional para se fazer companhia, sentir e acolher tudo isso.
Mas e quando a gente negligencia olhar e cuidar com amor e compaixão para esses vazios, dores e faltas? O caminho natural é a gente buscar ocupar nosso tempo para não ouvir as vozes dessas faltas nos chamando para olhá-las; a gente vai preencher o tempo para não sentir. Estamos falando de buscas e caminhos inconscientes, certo? E é justamente no reconhecimento desses padrões que a gente abre portas para que eles se tornem conscientes e a gente possa trilhar em direção à mudança. Mas, meu querido leitor, é a partir dessa busca por preencher os espaços para não sentir que surgem o comer demais, beber demais, trabalhar demais, estudar demais, comprar demais, se relacionar demais.
Oi? Se relacionar demais, é isso mesmo? É, meu amado ser. Se relacionar demais, mas totalmente distante da intimidade real. A intimidade nos coloca diante, olho no olho, das nossas projeções, do nosso controle, do temor da rejeição, do medo da solidão, do medo de se machucar de novo. Tudo aquilo que a gente quer correr léguas, não é?
Na Codependência Emocional a gente se relaciona tentando controlar o outro, cuidar de sua vida, assumir a responsabilidade pelas suas tarefas e deslizes, resolver os seus problemas, evitar que sinta dor ou desconforto. Tudo que deveríamos estar fazendo por nós, fazemos pelo outro; porque assim a gente se distancia das nossas faltas, medos, tarefas e vazios.
A gente ocupa o espaço para não sentir que falamos mais acima, com a vida do outro. O outro vira a nossa grande anestesia. Não sabemos lidar com o desconforto causado em não ter alguém, em não ter a tensão causada pelo relacionamento com alguém instável, emocionalmente indisponível, difícil. É justamente a tensão de um relacionamento com uma pessoa problemática, distante, mal-humorada, agressiva que anestesia e nos mantém distante de nós mesmos.
Passamos a precisar que o outro precise da gente para que possamos assumir essa posição de cuidador, salvador, portador do amor especial que vai transformar a vida de quem nos relacionamos, porque essa pessoa nunca se relacionou com alguém como nós, portadores de um amor que vai transformá-la.
Enquanto mantemos o nosso tempo ocupado tentando resolver a vida do outro, não precisamos investir tempo em resolver a nossa própria vida e olhar para nossos próprios vazios.
– Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
E-mail: [email protected]
Instagram: @maribenedito